Relatos de um assaltante
Você já se perguntou o que tem no escuro? Se essas lendas poderiam ser verdade?
Ainda há mistérios no mundo, e o que eu vou contar agora, você decide se acredita ou não.
Eu nunca tive infância, não um normal, eu estava preocupado demais tentando sobreviver, e como as coisas não caem do céu, muitas vezes eu roubava para sobreviver.
No meu décimo quinto aniversário eu me juntei a uma gangue, saíamos em duplas pela cidade, um distraía, outro roubava, e vai entre nós, era fácil de mais.
Muitas vezes eles deixavam suas bolsas abertas e de fácil acesso, outras vezes nem precisávamos de distração, seus celulares eram ótimos nisso, nós até pegávamos tais aparelhos de suas mãos e o transe impedia que eles percebessem até que fosse tarde.
Espalhados pela cidade durante o dia e juntos, numa casa velha e abandonada, no fim da tarde para compartilharmos nossos “prêmios”.
Telefones e todo o tipo de aparelhos que pegávamos, vendíamos para o Rico, ele traficava todo tipo de coisas, e nós éramos seus fornecedores favoritos, jovens, porém astutos.
Nós éramos nove, entretanto, apenas oito de nós saíamos para “caçar”, Romeu era o líder, tinha uns dezessete anos, ele nunca saia do covil e estava sempre armado. Era ele quem mantinha ordem entre nós, já que os outros eram tão selvagens.
Certa tarde, meu parceiro Ítalo e eu, estávamos voltando ao esconderijo, tínhamos vários “presentinhos”, e estávamos satisfeitos, pelo menos eu estava.
Avistamos um garoto, com roupas importadas, aparelhos de marca, e de seu bolso traseiro, notavam-se notas altas pulando para fora, ele expressava riqueza. Ele entrou em uma viela deserta, aliás, até a rua estava ausente de pessoas, Ítalo não resistiu, tinha que rouba-lo.
- É uma chance única Tadeu, você não entende? – disse ele cego pela ganância. – Você o pega por trás e eu faço o resto, apenas faça-o dormir.
- Tem certeza Ítalo? Já temos muitos, vamos embora já estou cansado - disse relutante.
Minha opinião de nada valia, quando percebi, ele já estava em posição, não tinha escolha. Como muitos, ele estava distraído com o celular, seria fácil, cheguei de fininho por trás e o ataquei, algo deu errado, eu apaguei por um curto instante, e eu estava caído, ele estava em cima de mim, me imobilizou com grande facilidade, seu joelho pressionava uma de minhas mãos, segurava a outra contra minhas costas, e uma de suas mãos segurava minha cabeça.
- Não se mexa, ou, eu quebro seu pescoço!
Essas palavras penetraram minha mente, eram frias e intensas, apesar de simplórias.
Ele tinha tudo sobre controle, pareciam até ações precipitadas e pela primeira vez em anos, eu senti medo, onde estava Ítalo? Estava esperando o momento certo ou foi atrás da ajuda do grupo? Seja como for, ele estava demorando de mais, e o tempo, havia parado, tudo o que eu podia escutar fora minha respiração e meu rosto sendo esfregado no chão.
- Não se mexa! Ou... Eu atiro!
Enfim ele apareceu, com a arma mirada na cabeça do garoto, Ítalo exigia que ele me soltasse e fosse para longe de mim, o tempo parara outra vez, o garoto o ignorou e continuava a pressionar minha cabeça, como que se quisesse esmaga-la, sua presença se tornou tão intensa que meu coração batia desesperadamente e meu sangue congelava dos pés a cabeça.
- Não ouviu? Saia logo! – Exigiu Ítalo.
Então, ele olhou friamente para meu parceiro, e eu senti uma sensação horrível, ele começou a emanar algo inexplicável, parecia uma mistura de ódio, trevas, frieza e pura maldade.
Ítalo se assustou e apesar de hesitar ele atirou, tudo foi muito rápido, ele não estava mais em cima de mim, a bala passou direto pelo ar, e, para minha surpresa, ele estava ao lado de Ítalo, com as mãos ensanguentadas, e a cabeça de meu colega caindo no chão.
- Eu volto para te pegar, o mesmo vale pare seus amigos. – disse de canto de olhos.
Tal pânico não poderia ser maior, e antes que eu notasse, ele havia sumido, num piscar de olhos. O que aconteceu ali? Tudo aconteceu tão rápido, num instante, Ítalo apontava uma arma para ele, no outro decapitado pelo mesmo.
Eu precisava de ajuda, Romeu saberia o que fazer, sai correndo em direção à gangue, deixando tudo para trás.
Todos estavam alegres, tinham conquistado muitos roubos, estavam até comemorando com bebidas e uns petiscos.
- O que foi Tadeu? Que cara é essa? Onde está Ítalo? – Perguntou Romeu rindo com uma garrafa em sua mão.
- Romeu, pro-problemas. – afirmei nervoso. – É o Ítalo... e-ele está mo-morto! Decapitaram ele Romeu. – lagrimas brotaram em meus olhos.
Toda a festa havia acabado naquele instante. O silencio prevaleceu.
- Que história é essa Tadeu?! Sem brincadeiras, onde ele está?! – Romeu jogou a garrafa no chão com raiva.
Todos olharam atentos para mim. Com certa dificuldade, expliquei o ocorrido, mas era difícil de acreditar em tal absurdo.
Não me venha com bobagens Tadeu! – gritou Romeu.
- Ele diz a verdade.
Para a surpresa de todos, lá estava ele, em cima do muro, sentado tranquilamente.
Todos apontaram armas para ele, e perguntas surgiram.
- Quem é você? – perguntou o líder. - O que quer?
- Meu nome é, ou costumava ser, Ewrik, tenho quinze anos há pelo menos três milênios, e sim tudo o que ele disse é verdade, eu matei aquele garoto.
- Não brinque comigo! – rosnou Romeu enquanto atirava junto de meus amigos.
Balas foram aos ares, e, além dos tiros, uma risada sombria era ouvida. Aquela sensação de morte voltara outra vez, e, de repente, todos menos Romeu e eu, estavam sem braços, foram desmembrados por Ewrik, que apareceu no topo do muro segurando os membros respingados com sangue.
- Maldito! Como fez is...
Os gritos de Romeu foram interrompidos pelo sangue em sua garganta, Ewrik havia aparecido em sua frente e atravessado seu peito com as mãos e todos os outros decapitados por ele, outra vez, tudo aconteceu num piscar de olhos.
Ele então se virou para mim, emanava nada além de morte e terror, com frieza, retirou o coração de Romeu, que apesar de transbordar sangue, percebia-se que ainda pulsava, com um sorriso sádico, ele lambeu o sangue com prazer e comeu o órgão com imensa vontade.
Então, sirenes foram ouvidas, Ewrik mergulhou no chão como se o mesmo não fosse sólido. Foi quando os policiais chegaram, quando viram a cena, apenas eu vivo e todo ensanguentado com o sangue deles, sabe-se logo o que pensaram, por fim, acabei aqui.
- Por que não fugiu Tadeu, se escutou as sirenes?
- Eu estava aterrorizado de mais, seu detetive, por mais que eu quisesse minhas pernas não se moviam.
- Entendo, é apenas isso que tem a nos dizer? Está é sua história? Um garoto que sem mais sem menos, mata todo mundo e tem poderes sobrenaturais?
- S-sim, mas é verdade, você tem que...
- Muito bem garoto, pode ir, você ficará numa sala por uns dias, sem mais perguntas.
- Mas... Ele vai voltar, eu sei disso, ele me quer morto e...
- Está bem garoto, chega de conversa, pode ir, irão levá-lo, agora vá!
Tadeu se levantou, sabia que ia levar a culpa por tudo, ou iria para uma penitenciária ou para uma clínica por causa da história que contara.
Enquanto se levantava, pronto para sair da sala de interrogatório onde um guarda o esperava, Ewrik apareceu em sua frente, em cima da mesa, olhando fixamente em seus olhos, enquanto expressava mais um sorriso sádico, disse:
- Olá Tadeu, há quanto tempo.
Surpresos, os detetives tentaram fazer algo, mas assim que ele terminou sua frase, as luzes de todo o quartel se apagaram e acenderam no mesmo instante. Desmembrados, os dois detetives estavam grudados em diferentes cantos da parede a sua frente, e as outras cobertas por sangue e escritos várias vezes “hahaha” com o mesmo.
O garoto ficou apavorado, o pesadelo voltara, tentou pedir ajuda, mas a porta não abria, e do lado de fora, todos estavam mortos no chão.
- O que você quer?! Por que está fazendo isso?
- Por quê? - disse ele abruptamente em sua frente. – Uma vez, há muito, roubaram minha vida de mim, estou apenas procurando o ladrão. Que pena, não é você, talvez na próxima.
As luzes se apagaram, e não mais se acenderam, gritos foram ouvidos pelo silencioso corredor e via-se sangue jorrar na porta, cessando os gritos.