Odisseia do Escritor
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 As maçãs de Eva

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Ademar Ribeiro
zizgz
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zizgz




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MensagemAssunto: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeDom Out 12, 2014 4:49 am

Eva pegou no fruto. Era belo: suave ao toque, rubro brilhante, grande, suculento. Eva olhava para ele e sorria. Tocava-lhe com a ponta do indicador e pressionava, experimentando-o. Começou a lançá-lo para o ar e seguia o seu movimento ascendente e descendente com a cabeça e o olhar. Para cima, para baixo, o fruto ia e vinha e ela ria. Eva brincava, e estava deliciada com o seu tesouro. Aproximou-o do nariz e cheirou o seu perfume doce. Deitou-se e pousou-o no seu umbigo, deixou-o rolar pela vulva. Encostou-o aos seios , colocou-o entre eles e ele deslizou novamente pelo ventre. Deixou-o novamente pousado sobre o umbigo e, com a palma da mão, pressionou-o contra a barriga, como se o fosse esmagar. Mas o fruto era robusto e aguentou. Eva deu uma gargalhada e atirou-o para trás das costas, onde caiu junto da macieira.
Era o alto de uma colina, o vento era forte e as folhas da árvore sussurravam. À volta da colina ficava uma larga planície por onde corria um rio. A vegetação era rasteira em todo o lado e destacava-se aquela árvore no alto do monte. Eva rebolou nas ervas e ergueu-se em seguida. Alta e nua permaneceu imóvel com os cabelos soltos ao vento. Subitamente ficou séria e fixou o olhar no horizonte. Ali, parada, ao lado da árvore, sentiu-se triste por um momento. Não havia mais ninguém.

***

Adão era um rapaz pacato. Ficava junto ao riacho olhando os peixes, agitava pauzinhos na água, atirava pedrinhas que faziam ondas. E assim passava os dias. Quando sentia fome, entrava no riacho e perseguia os peixes, que sendo tantos, acabava por apanhar com as próprias mãos treinadas a não deixar escapar os escorregadios animais. Depois fazia um fogo, assava-os e comia-os. À tardinha deitava-se de costas sobre um manto de relva e tocava-se com as mãos que percorriam seu peito e coxas e paravam no seu membro, que intumescia imponente, para espanto do próprio Adão, que se deliciava tocando-lhe. Depois, chateava-se, e dava um mergulho na água e voltava aos pauzinhos e às pedrinhas.

***


Era aproximadamente o ano de 2200. Salomão mantinha ainda um registo dos anos que passavam. Não registava os dias, mas contava as luas, e ao fim de 12 luas cheias riscava um ano no seu calendário. Para crescer as suas plantas era-lhe útil saber a fase da lua e a altura do ano. De resto, pouco lhe interessava quanto tempo já tinha passado. Tanto quanto sabia era o único sobrevivente – ele e os dois miúdos – o que seria deles?
Em 2080 tinha surgido a peste. Homens, mulheres e crianças começaram a padecer. A morte era súbita e angustiante. Diziam os que estavam a morrer que o corpo ardia. De facto, o químico libertado pela bactéria era um forte ácido que corroía tudo. Foi só isso que a avançada ciência descobriu. Morreram todos. Salomão era alquimista. Procurava ainda em pleno século XXIII  transmutar metais em ouro e criar o elixir da longa vida. Ninguém o levava a sério. Mas foi uma das suas poções que o salvou. A ele e às duas crianças. Ficaram apenas os três, rodeados de milhares de cadáveres. Não lamentou que a sua cura ficasse incógnita. O mundo em 2080 era promíscuo, corrupto e injusto. Só existiam vítimas e carrascos. Pouco se importou que morressem todos. Mas os dois bebés, que choravam na rua, decidiu salvar. Salomão criou as crianças. Ambos cresceram ignorantes de tudo. Salomão tinha uma mezinha que fazia que quem a tomasse não desenvolvesse a memória. Era um prodígio. As crianças cresciam e não se lembravam de nada do dia anterior. Nem sabiam os seus nomes. Salomão ensinou-lhes a sobreviver apanhando ervas, caçando e pescando. E o que eles aprendiam ficava. Apenas a memória do que acontecia se perdia. Quando eles fizeram 15 anos resolveu separá-los: aos dois e de si. Foi uma visão. Salomão sabia interpretar os sonhos, e sonhou que duas águias, macho e fêmea, voavam sobre escarpas e planícies, solitários, com olhos apenas nas presas. Decidiu levá-los para sítios distantes. Sabia que iriam sobreviver. Deixou-os nus a 20 milhas de distância um do outro, e decidiu que se o destino o quisesse se encontrariam um dia, e como as águias, voariam livres e incorruptos. Salomão não sabia se esse dia teria chegado. E jamais saberia. Estava doente. Ia morrer. E para evitar sofrimentos maiores, tomou a cicuta.

***

Eva decidiu andar. Levava a maçã na mão e atirava-a para cima e para baixo, enquanto caminhava. Cantarolava e ria, por entre árvores e mato, flores e pássaros. Chegou até junto de um riacho e parou surpreendida. Avistara Adão. Não se parecia com nenhum outro animal que conhecia, mas pareceu-lhe encantador. Adão estava sentado a atirar pedrinhas à água. Eva aproximou-se e ficou longamente a observá-lo nas suas costas. Passado algum tempo, não resistiu e atirou-lhe a maçã, que acertou na cabeça de Adão. Este virou-se e ficou espantado quando a viu. Ficaram a olhar-se durante algum tempo, até que ambos sorriram um para o outro. Sem palavras, nem complicações, aproximaram-se e tocaram-se. Eva guiou as mãos de Adão pelo seu corpo, como fizera com a maçã. Mas agora o entusiasmo e a excitação eram maiores.
Ao fim da tarde, depois de unirem os corpos, sentaram-se junto ao riacho, a comer maçãs. E sorriam.
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Ademar Ribeiro

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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeDom Out 12, 2014 10:07 am

Olá,

Rapaz este texto me lembra algo.

Você escreve bem, assim como o texto do mês de setembro indentifiquei uma bela narrativa, sem problemas de condução. Foi interessante a abordagem de um pós texto como uma "introdução", acho válido e estimula o leitor.

Quanto ao enredo em si, novamente o realismo mágico se ausentou, ao menos não o senti neste texto. É tão complicado  comentar sobre. Façamos assim: aguarde mais alguns comentários para saber de fato se o subgênero proposto se ausentou. Em relação ao texto, acredito que uma melhor elaboração do evento que causou o apocalipse agradaria mais. É somente isso. Grafias e ortográfias OK. Parabéns, contamos com tua presença mês que vem.
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zizgz




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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeDom Out 12, 2014 2:01 pm

Obrigado. Também foi difícil para mim perceber o que é realismo mágico. Abraço
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Tammy Marinho

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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeDom Out 12, 2014 3:18 pm

Tema? Presente - mais um mundo pós-apocaliptico (embora eu tenha achado esse contexto, não muito bem abordado).

Subgênero? Passou raspando...
Moço, tu tava indo muito bem nessa empreitada, esse lance da memória seria um conteúdo fabuloso, mas ele teve que ter explicação. No Realismo Mágico o extraordinário não se explica.

Então prosseguindo no meu comentário ao conto anterior.
Esquece as criaturas lendárias... OK
ESQUECE as explicações... não carece.

Mas como exste uma fórmula justificando a ausência da memória... Realismo Mágico OUT

Parabéns pelo texto.
E até Novembro!
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Indy J

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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeQua Out 15, 2014 5:05 am

Oisss

Gente, não precisava dessa pressa. Talvez seja melhor elaborar um outro texto mais respeitoso ao subgênero pra concorrer, depois de ler uns contos do Gabo e sacar a definição, mesmo, de realismo mágico? Sem preguiça!

Quanto ao texto, o início do conto já meio que entrega o enredo inteiro ou, pelo menos, a intenção do enredo... e não é uma espécie de intenção que motive muito a ler, entende? As "promessas" feitas pelo início não são cativantes.

Faz outro, zizgz! Dá tempo! Very Happy
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Rogério Silva

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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeQua Out 22, 2014 2:04 pm

zizgz

O texto é bom, mas achei-o rápido, como um miniconto. Interessante e pós-apocalíptico, mas não vi o realismo mágico.
Abraços,

Rogério Silva
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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitimeSeg Out 27, 2014 1:12 pm

Bom, mas tudo que faltou já foi dito acima. Concordo que é ruim mesmo quando temos que seguir um tema, normalmente é novidade para a organização dos pensamentos; mas esse é o objetivo do grupo. Difícil, mas não impossível.
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MensagemAssunto: Re: As maçãs de Eva   As maçãs de Eva Icon_minitime

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