Odisseia do Escritor
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 Sufoco natalício

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Ademar Ribeiro
zizgz
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zizgz




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MensagemAssunto: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeQui Dez 18, 2014 11:24 am

0:50, 23/12/2014

Porra! Outra vez este pesadelo. É Natal. A Gisela corre atrás de mim à volta da árvore, que brilha e pisca-pisca as luzinhas, como que rindo da cena. Eu rio também, e fujo aos saltinhos. A Gisela agarra-me. Deita-se sobre mim, toda gorda, a rir e a salivar. Com o peso começa a sufocar-me, mas não se apercebe. Ela apenas ri, e põe todo o corpo sobre mim. Eu asfixio, arfo. A custo, consigo chegar com as mãos ao fio das luzinhas de Natal e puxo-o. A árvore cai por cima dela. Ela continua por cima de mim. Eu, esticando os braços, puxo o fio e, na confusão e atrapalhado, ponho-o em volta do pescoço dela. Estou quase a asfixiar, a Gisela ri, mas agarro no fio e puxo-o novamente. A Gisela começa a tremer, e eu puxo mais o fio; e, acaba - sufocando, a Gisela morre esganada. Eu fico ali, com ela morta por cima de mim, e ainda arfando, acordo.

A Gisela era a nossa empregada. Tratava-me bem. Eu ia com ela às compras e recados e ela dava-me sempre rebuçados. Punha um rebuçado no meio dos lábios e dizia “Agora vem buscá-lo”. Eu ia com a boca e tirava-o, e ela dava-me um beijo. Tínhamos as nossas brincadeiras. Ela tinha mamãs grandes e, à tarde, quando estávamos só nós em casa, sentava-se no sofá e chamava-me. Eu chegava-me a ela e ela puxava-me. Eu encostava a boca ao peito dela e ela acariciava-me o pau. Ficávamos assim um bocado e depois dizia “Seu maroto, vai estudar, eu tenho de ir trabalhar” e a festa acabava por ali. Durante a tarde, ia às vezes um amigo dela lá a casa. Ela mandava-me para o quarto e ficava com ele na sala. Eu ficava a espreitar pelo buraco da fechadura, e via o tipo a baloiçar para trás e para a frente enquanto ela gemia. Um dia a minha mãe chegou mais cedo e apanhou-os. Foi despedida e nunca mais a vi. Foi substituída por uma velha mal disposta que não me ligava nenhum.
…...................

10:00, 24/12/2014

Fui ao supermercado comprar umas coisas para o jantar de Natal. Já passo o Natal há anos sozinho e não me incomoda. Faço um jantar um pouco diferente e bebo vinho. Só isso. Na fila do supermercado uma garota virou-se para mim: “Você não compra muita coisa para um jantar de Natal!”, “É, passo sozinho.”, “Sozinho, que tristeza, onde é que você mora?” “Na Av. dos Combatentes”, “Sabe, eu moro perto, e passo o Natal com uma amiga. Podemos passar em sua casa hoje e divertimo-nos um pouco juntos”. “Porque não? Escreva aí o endereço”.

23:00, 24/12/2014

Já não esperava. Mas elas sempre vieram. Chegaram sorridentes. Trouxeram chocolates. A amiga da rapariga era gorda e tinha grandes mamas. Eu fiquei logo siderado com aquele decote apetitoso. Sentamo-nos na mesa e a rapariga do supermercado fez a conversa. Era cabeleireira e pôs-se a falar das manias das clientes: fulana gosta de trancinhas porque quer parecer jovem; sicrana um dia apareceu com piolhos e fez um escândalo quando lhe disse; uma aparecia todos os dias para experimentar penteados diferentes; outra perguntou-lhe uma vez se podia ir lá a casa cortar-lhe o cabelo, porque ela, a do supermercado e cabeleireira, era muito atraente e a outra queria lambê-la toda enquanto manejava a tesoura... Eu ia ouvindo, mas estava apanhado pelas mamas da outra e, por baixo da mesa, pus-lhe a mão nas coxas. Ela riu, só ria. Enquanto a acariciava e a sentia molhadinha, sussurrei-lhe ao ouvido se não queria ir para o meu quarto. Fomos e deixamos a do supermercado a ver televisão. Saltei-lhe logo em cima e fodi-a bem. A certa altura ela salta para cima de mim e eu sinto aquele peso todo em cima. Ela começa a saltar sobre mim e a esfregar-se toda, de pernas abertas em cima da minha cara. Eu começo a sufocar e a bracejar. Estico o braço e arranco o fio do candeeiro ao lado e ponho-o em volta do pescoço dela. Enquanto quase sufoco, estico o fio, estico mais e ela cai esganada.

24:30 25/12/2014
Volto à sala. Viro-me para a rapariga e digo: “Fiz merda, sua amiga está morta no quarto. É melhor chamar a polícia.” Ela olha para mim muito séria e diz: “Cara, você matou a porca da Célia?” “É. Nem sei como.” “Deixe isso para lá. Despache o corpo. Eu também não a curtia. Encha o copo de vinho e relaxe.” Deu-me um beijo na face e saiu. Ainda disse: “Jogue o corpo fora e não pense mais nisso. A vida são dois dias e só nos resta um. Adeusinho e bom Natal.”


Última edição por zizgz em Ter Dez 23, 2014 8:36 am, editado 1 vez(es)
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Ademar Ribeiro

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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeTer Dez 23, 2014 7:39 am

Caraca, tu é sempre o mais rápido no gatilho.

Sem meias palavras, sem introdução tu segue num ritmo alucinante, do meio ao fim em minutos. Isso não descredencia seu texto, muito pelo contrário, o torna mais dinâmico e agradável. Mas vejamos por pontos seu texto. Por que optou pelas aspas ao invés do travessão para os diálogos? Estou confuso quanto ao subgênero e tema. Tu pode me elucidar? Gostei da ideia, parabéns. Ah, tu esqueceu de compartilhar no grupo.

Feliz Natal e um próspero ano novo!
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zizgz




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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeTer Dez 23, 2014 8:35 am

Obrigado pelo comentário, Ademar.
Quanto ao tema e género, é uma espécie de aventura de uma noite de Natal, e um pouco macabro, pois ele a mata.
Quanto às aspas, penso que se pode usar para os diálogos. Como eles estão no meio do texto e não em parágrafos separados, para ser mais corrido, achei que fica melhor com aspas do que com travessão.
Bom Natal e bom ano novo!
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Edwin Junque




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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeQua Dez 24, 2014 6:13 am

Uma narrativa direta. Lembra os contos de Nelson Rodrigues .Aventura com a macabra morte da moça durante o sexo e mais macabro ainda a reação após morte, de tomarem um vinho. Gostei.
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talysmcidreira




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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeSeg Dez 29, 2014 2:13 pm

Olá,
Gostei da maneira que você iniciou a narrativa, isso prende a atenção do leitor. Os personagens mesmo vagos são marcantes. O texto é simples e direto , tornando a leitura dinâmica e ágil.
Parabéns!
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Vinícius Tadeu




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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeTer Jan 06, 2015 7:18 pm

Texto curto, podia ter explorado mais o enredo, e grosso (para um texto de época - Natal). Já começa com "porra". Considere-me um leitor beta, masculino, 60 anos. Leve em conta que outros betas, de outras faixas de idade, podem discordar desse meu comentário.
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murillomagaroti23

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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeQui Jan 15, 2015 6:00 pm

Eu gosto de escrever textos curtos, e sempre corro um certo risco de parecer que falta algo neles. O seu conto me deu essa impressão estranha, de que faltou algo. Essas muitas ênclises me incomodam um pouco também.

Gostei da relação que traçou entre o protagonista e a empregada, com esse lance de ele tornar o sonho realidade. De fato, não podemos falar que não tenha sido uma aventura. Pelo menos para ele, que não tinha nenhuma perspectiva com a noite natalina, foi.

Uma curiosidade: qual outro dia considerou em "A vida são dois dias e só nos resta um"?
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zizgz




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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitimeQui Jan 15, 2015 6:19 pm

Obrigado pelo comentário. Quanto às ênclises, eu escrevo em português de Portugal, e aqui o seu uso, penso, é mais frequente. Quanto ao outro dia... não sei, talvez falte explorar esse outro dia, no texto.
Bom ano!
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MensagemAssunto: Re: Sufoco natalício   Sufoco natalício Icon_minitime

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