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 Não era uma sexta-feira comum

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Estela Goldenstein

Estela Goldenstein


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MensagemAssunto: Não era uma sexta-feira comum   Não era uma sexta-feira comum Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 4:11 pm


São 06:30 da manhã. Lizza ouve o despertador de seu celular, olha pra a tela abrindo apenas um dos olhos, aperta a opção soneca e enfia a cara no travesseiro, 5 minutos depois o som se repete, ela levanta bruscamente senta-se na beira da cama com o celular na mão e solta uma expressão:
        – Inferno!
        O fato de ser sexta geralmente deixa essa linda garota solteira muito animada, com a expectativa de um final de semana badalado, mas não é um dia comum, o visor do celular mostra 12/06, sexta-feira.
Lizza se apronta para o trabalho e ao sair passa rapidamente pelo espelho, que fica próximo a porta de saída do seu AP, ela volta e olha atentamente para seu reflexo e pensa: “nossa, que cara horrível, preciso mudar isso”. E fica treinando sorrisos em frente ao espelho até se dar conta que está atrasada, desce as escadas rindo de si mesma. Vai até a garagem coletiva do seu prédio e agradecesse a Deus quando percebe que nenhum carro está prendendo o seu.
        No trajeto até o trabalho pega um trânsito, que sempre é pior nas sextas, ninguém sabe explicar o motivo. Entre semáforos, buzinas, ciclistas imprudentes e velhinhas que insistem em atravessar ruas, ela ouve sua playlist, e pensa: “preciso de umas musiquinhas novas, isso aqui tá pra lá de desatualizado!”.
Lizza se sente pressionada pela sociedade, pois está solteira no dia dos namorados e reflete sobre isso: “essa coisa de dia dos namorados foi inventado pelo comércio, há dias sou obrigada a aguentar as propagandas na TV, a decoração com motivos de corações de todas as cores e tamanhos no shopping, sem contar os infinitos e-mails de sites de compras coletivas e lojas que recebo como ofertas e sugestões de presente, tudo isso não faz sentido! Porque será que as pessoas se importam tanto? Que idiotas”.
      Chegando ao escritório, o bullying começa, ela sobe no salto, e responde com comentários carregados com o humor ácido, que a acompanha desde a primeira hora da manhã. Ela observa o entusiasmo das meninas comprometidas, não sabem falar de outra coisa que não sejam os planos para logo mais, salão de beleza, unhas, superproduções. A programação é bem variada, desde um simples jantarzinho romântico até motel com direito a brinquedinhos recém-comprados pelas gatas no sexshopping.
É nessa atmosfera que Lizza passa seu dia. Quando chega pertinho do horário de ir embora, ela faz alguns contatos, com outras amigas solteiras pra ver qual é a boa da noite. Combinam um happy hour regado a chopp pra começar... Enfim, horário de saída marcado no relógio ponto da empresa, ela parte para o barzinho.
       No lugar combinado, nenhuma surpresa, o movimento está bem diferente de sextas normais. As outras garotas chegam logo, agora estão em quatro na mesa. Quatro lindas mulheres solteiras! Nenhuma delas tocou no assunto proibido, dia dos namorados, uma delas observa que o movimento está “devagar”, mas a sede de chopp das companheiras fez com que o comentário passasse despercebido.
Depois de algumas rodadas, e algumas piadinhas soltas por pessoas inoportunas sobre a “solteirisse” das meninas, duas delas abandonam as amigas, e vão cada uma para sua casa para tentar curar seus doloridos cotovelos.
Lizza e Kátia pedem a saidera, que é por conta da casa. Percebem que a hora tinha passado de pressa, mas que está em tempo de dar uma esticadinha, houve certo impasse ao decidir entre uma baladinha estilo pop rock ou o básico sertanejo com pagode, a segunda opção vence. As duas amigas pegam um táxi e Lizza, durante o trajeto, posta em uma rede social pelo celular uma foto maneira com a legenda clichê: “Hoje o dia é dos namorados, mas a noite é dos solteiros #partiubaladinha #curtindoanoite”. A amiga Kátia curte o post um segundo depois.
Na balada a música está animada, o lugar nem tanto, Katia comenta:
       – Ai amiga isso aqui tá caído hoje hein!
       – Pra você ver, os caras que lotam esse lugar todas as sextas tem uma namorada corna, é por isso que eu não namoro!
        Elas riram e Lizza convidou a amiga para uma tequila.
        As duas beberam, dançaram, curtiram, mas Kátia sentiu que já tinha chegado ao seu limite:
        – Amiga, já deu pra mim hoje. Se eu tomar mais um gole de qualquer coisa, caio dura bem aqui na sua frente. E também, acho que não vou conseguir pegar ninguém mesmo!
        Lizza olha a hora no seu celular, marcava 3:22 e responde:
        – Ta muito cedo ainda, quero ficar mais um pouco, mas você pode ir! De boa!
        – Tem certeza?
        – Vai mulher!
       Kátia paga sua comanda e vai para casa, e Lizza resolve ir até o fumódromo, lembrou que sempre conhece pessoas interessantes lá. A garota, como uma bandida experiente, dá uma boa analisada nos seres ali presentes, que para sua alegria, são na maioria homens. Ela rapidamente, mesmo com seus sentidos alterados pela bebida, faz uma seleção entre os caras. Avista um gato, alto, forte, loiro, olhos verdes, com pinta de surfista, sozinho no cantinho e pensa: “me dei bem!”. Faz um sorriso sacana, pega um cigarro, caminha até ele, e pergunta:
       – Ascende pra mim!?
       O bonitão está ao lado dela, mas quando vira totalmente, Lizza percebe que o cara tem uma cicatriz muito feia no rosto, era como se ele tivesse sido queimado. Ela tenta disfarçar, ele percebe, mas disfarça também, e começa uma conversa. Ela pensa: “me ferrei, o gato dos sonhos é metade churrasco, pqp!”, mas naquela altura da noite, sem perspectivas resolve curtir o papo do cara. Não para por ai, o sujeito arrisca um beijo, e tem sucesso, enquanto beijava ela pensa: “vou fazer um feio feliz hoje, presente de noite dos solteiros”. Depois de alguns minutos os dois pagam suas comandas, cada um a sua e seguem em um taxi para um motel classe C.
No motel Lizza vai para a ducha, está o dia todo fora de casa, precisa pelo menos de um banho antes da brincadeira. Ao sair do banheiro encontra o gato surfista nu, mas ela só consegue olhar para as cicatrizes, não resiste e pergunta:
        – Como foi acontecer uma tragédia dessas com um rosto tão lindo?
A expressão do rosto dele muda completamente, ela senta na cama, ele fica parado bem na sua frente e diz:
       – Eu já fui casado e quando eu bebia, batia na minha mulher. Uma tarde de domingo enquanto descansava o almoço, ela tacou uma panelada de água fervendo na minha cara! Se eu não tivesse desmaiado por causa da dor, tinha matado aquela vadia na porrada!
Ao ouvir esse relato, Liza simplesmente congela, não consegue respirar, nem piscar, mal pode pensar: “meu Deus, esse cara é doido, ele bebeu! Como eu sou idiota! Como vou sair dessa?”. Levanta-se rapidamente e se tranca no banheiro.
        O assassino em potencial fica parado em pé, com a testa colada na porta, girando a maçaneta lentamente, em silêncio. Do lado de dentro do banheiro Lizza está desesperada, o medo possui seu corpo e sua mente. Checa a possibilidade de fugir pela janela e descarta, senta na privada e observa o movimento contínuo, lento e silencioso da maçaneta, grita com voz chorosa:
       – Vai embora!
       Nenhuma resposta do outro lado, ela continua:
       – Vai embora! Por favor!
       O movimento da maçaneta para, Lizza espera por um tempo, não sabe exatamente quantos minutos ou horas passaram, desde o último movimento da maçaneta, ela cola o ouvido na porta. Silêncio absoluto. Tem a ideia de espiar pela fechadura, escuridão total. Ela pensa que ele deve ter ido embora, que Deus atendeu suas preces.
Cuidadosamente gira a chave da porta, se prepara para um ataque, que não acontece. Ela abre uma frestinha da porta, nada acontece. Lizza sai pé por pé do banheiro, procurando um interruptor de luz, e acontece ...
O gato churrasco a joga na cama com violência e com deboche no tom de voz, diz:
      – O que foi vadia? Tá com medinho? Por quê?
      Lizza chora e se debate tentando se desvencilhar. Ele olha bem nos olhos dela e sussurra:
      – Você não quer mais dar pra mim? Sua piranha! – e do sussurro vira um grito – PIRANHA!
      Lizza está apavorada, não para de imaginar o que vai acontecer com ela: “esse filho da puta vai me matar” e “eu tenho que fazer alguma coisa”, leva um tapa bem na cara:
      _ AAAAAAAI, filho da puta me solta!!!!!!! SOCORR!!!!!!
      A mão dele na boca dela abafa o pedido de socorro.
      Lizza muda a tática, tenta seduzir o seu algoz, fala baixinho:
      – Tudo bem gato, tudo bem. Começamos mal, mas podemos voltar pro clima... Me beija!
      O homem que não para de olhar fixamente nos olhos de Lizza. Tira a mão da sua boca e a beija, ela corresponde com um beijo ardente e o homem parece relaxar um pouco. Assim ela consegue fazer eles mudem de posição e ela fica por cima. O beijo é longo e ele está muito excitado. Quando ela se sente segura, morde os lábios do cara com toda a força que ela pode. Ele grita de dor, ela levanta e consegue chutar o saco dele. Sai correndo nua pela garagem do motel e quando chega à guarita, pede ajuda para a menina da portaria, que ao vê-la correndo nua em sua direção pergunta:
     – Que isso moça? O que está acontecendo?
     Lizza só chora, não consegue explicar o que houve, a menina da portaria diz que vai chamar a segurança.
     O psicopata, já vestido, vem caminhando com passos de Jayson na direção das duas. Lizza observa e fica calada, estática. Ele se aproxima, segura a moça da portaria por trás e tampa a boca dela com a mão.
     O olhar de Lizza oscila entre os olhos da moça e aquele par de olhos verdes. Ele sem hesitar, olhando fixamente para ela, segura a cabeça da moça com as duas mãos e gira com força, então solta o corpo sem vida no chão.
      Ao testemunhar essa a cena, tenta se controlar e arrumar um jeito de sair dali. De onde ela está consegue ver o controle remoto do portão, o louco não para de olhar fixamente nos olhos dela, imóvel, nenhuma palavra foi dita.
Ela consegue pegar o controle, aperta o botão e assim que o portão abre , sai correndo, nua pela calcada. Ele calmamente passa pelo portão, e observa ela correndo, lindamente desesperada. Com um sorriso sacana ele caminha na direção oposta. Anda cerca de duas quadras, entra em seu carro que estava estacionado estrategicamente, dá a partida e abaixa o vidro. Ao arrancar com o veículo arremessa pela janela a máscara de cicatrizes que havia usado todo o tempo.


Última edição por Estela Goldenstein em Qua Jul 16, 2014 12:26 pm, editado 4 vez(es)
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Patricia Souza
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MensagemAssunto: Re: Não era uma sexta-feira comum   Não era uma sexta-feira comum Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 4:58 pm

Jesus de misericórdia! D;

Coitada da moça, saiu nua pela rua, vai ser violentada de qualquer forma! :X

Ótimo ritmo, continue assim! Pecou só um pouquinho na revisão, algumas vírgulas a mais e pontos de menos, fora algumas palavras escritas erradas, mas acontece.

Louca pra ler o próximo! Very Happy
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Ademar Ribeiro

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MensagemAssunto: Re: Não era uma sexta-feira comum   Não era uma sexta-feira comum Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 5:10 pm


Estela parabéns. Adorei sua história, um enredo fabuloso e bem cotidiano, eu diria até que foi baseado em fatos reais. De verdade, você tem talento para escrever, nos prende no texto, isso é de muita importância para um autor(a). Pecou em duas ou três palavrinhas mal acentuadas, e algumas pontuações, mas desconsidere, é somente uma formalização de critica. Parabéns!
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Carol Rodriguez

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MensagemAssunto: Re: Não era uma sexta-feira comum   Não era uma sexta-feira comum Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 12:44 pm

Só esperava um final mais conclusivo. Mas adorei!
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Queirós

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MensagemAssunto: Re: Não era uma sexta-feira comum   Não era uma sexta-feira comum Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 2:34 pm

Estela Goldenstein, olá!
Eu tive a sensação de que você embaralhou os tempos verbais, não sei como isso se encaixa nas narrativas, não sei se é usado de propósito. Por vezes você narra no presente, por vezes no passado. Por exemplo, o primeiro parágrafo está no presente, mas o que segue se articula entre presente e passado. Dois exemplos aleatórios:

"Vai embora! - Nenhuma resposta do outro lado, ela continua:" Não seria "ela continuou"?
"Não sabia exatamente quantos minutos tinha passado desde o último movimento da maçaneta, ela
cola o ouvido na porta." Não seria "ela colou o ouvido na porta"?

Eu gostei muito do final e da aproximação que se têm com a realidade por todo o texto. Uma coisa que me desagradou um pouquinho foi o seu homem da cicatriz ter quebrado o pescoço da menina da portaria. Achei que ficou de graça, não é tão fácil matar assim. Lembrando que seu texto é bem realista, por isso que falo desse detalhe. Eu também entendi que Lizza se safou, o cicatrizento não me pareceu com vontade de persegui-la para além. É isto! Final muito agradável!
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Estela Goldenstein

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MensagemAssunto: Re: Não era uma sexta-feira comum   Não era uma sexta-feira comum Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 3:56 pm

Obrigada pelas observações de todos! Eu realmente escrevi o texto correndo, e pequei na falta de revisão, inclusive dos tempos verbais Queirós! no próximo vou caprichar mais!

Tentei colocar um pouco mais de terror na história, fazendo o psicopata matar a mocinha porteira tadinha.

Abraços
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