Odisseia do Escritor
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 Onde sempre quis estar.

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Ademar Ribeiro
Carol Rodriguez
Caio Biolcatti
Karol Silano
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AutorMensagem
Karol Silano




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MensagemAssunto: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeDom Jul 27, 2014 3:35 pm

Onde sempre quis estar.  Mulher-anjo

Aurora sentiu a presença da irmã antes mesmo de ouvir seus passos. Era como se algo dentro dela chamasse pela presença de Lilith e esse sentimento era o maior motivo por estarem juntas até hoje. Era mais do que amor e laços de sangue... Era a necessidade de estar próxima uma da outra, como se fossem a mesma metade de um todo.
Lilith se sentou o mais próximo possível, mas não a olhou. Diferente de Aurora, que a encarava como se estivesse hipnotizada. Talvez estivesse. A pele negra de sua irmã a atraia, assim como os longos cabelos meia-noite. Sabia, mesmo não vendo, que os olhos vermelhos brilhavam como sangue. Cores fortes e profundas, bem diferentes das cores pálidas e amareladas de Aurora.
Pena que as aparências não revelavam as intenções do coração.
- Eu o matei – sussurrou Lilith – Não tive opção. Ele viu meus olhos e eu tentei...
Finalmente, pensou Aurora.
- Você precisava disso, minha irmã. É sua missão. Matar as almas boas e tudo isso – disse Aurora, o desdém óbvio em sua voz.
Os ombros de Lilith tremiam do choro reprimido. Deus, como era sensível sua pequena irmã. Uma gárgula como ela não deveria ser tão sensível. E Aurora, um anjo, deveria sentir alguma coisa sobre isso... Mas só sentia tédio.
Por falar em ironias da vida...
- Eu achei a estatua do nosso pai – Aurora diz. Uma tentativa de acabar com o choro da irmã. Funciona.
- Oh, sim? Isso é ótimo! Quero tanto vê-lo... Mamãe mandou noticias?
- Sabe que não, Lilith. Não sei por que ainda pergunta... Mãe não te reconhece como filha. É uma gárgula, não um anjo. E anjos não se misturam com demônios.
- Se não se misturassem, você e eu não existiríamos. Somos as provas vivas de que anjos e gárgulas se misturam de todas as formas, Aurora. Somos gêmeas.
- Mamãe teve um momento de tentação com nosso pai, nada demais. Você romantiza demais uma noite de sexo. O ato dos dois causou consequências. Nós viramos assassinas, mamãe perdeu as asas e o papai virou estatua.
Lilith suspira triste e melancólica. Se Aurora não necessitasse tanto da presença da irmã... Não, não pensaria em como era simples matar sua irmã. Mas que era uma vergonha para as gárgulas ter um ser tão bom como ela, isso era! O que Aurora não daria para ser uma gárgula... Matar almas boas e más por mera diversão, rir, beber e festejar sem regras ou pudor.
O desejo divino não é tão justo quanto se pensa. Quando sua mãe engravidou e descobriram que o pai era uma gárgula, houve um pequeno conflito. Eram bonzinhos demais para matar as crianças, mas não queriam a maldade em seu reino. Então, o Criador decidiu que o futuro das crianças seria decidido após o parto.
Resumindo: Ele e todos os anjos se enganaram. Deixaram que as aparências os enganassem. Lilith nasceu com aparência e asas de gárgula, mas com coração puro. Isso não a poupou de viver no Inferno. Já Aurora de olhar doce e com asas macias, nasceu com coração frio e negro. Se perguntassem a ela, sua punição era viver no Paraiso.
A mãe perdeu as asas, o pai a vida.
Onde estava a justiça divina agora?
- Queria ter nascido como você, Aurora. Um anjo. Mesmo quando mata, tem um bom motivo para isso. Eu? Mato porque me obrigam. Mato almas boas, irmã. Almas que não mereciam isso.
Que um raio caia sobre essa menina!
Reclamando da vida boa que leva!
- Reclama de barriga cheia e sabe disso. Não ia querer viver no paraíso, maninha. É simplesmente tedioso. Os melhores momentos do meu dia são quando desço na terra para te ver. Olhe essa cidade! Eu mataria para viver aqui.
- E eu – Lilith responde, mas não a olha.
E eu? Como? Alarmes surgem na mente de Aurora. Sua irmã falando em matar e por interesse próprio? Algo estava fodidamente errado nisso.
- Como assim, maninha? Finalmente seu lado gárgula despertou?
Lilith não respondeu e o clima se tornou pesado. As duas pensando no que a outra poderia fazer. Ambas estavam insatisfeitas com suas vidas, querendo o que não tinham, sendo algo que não eram. Aurora ainda via a mãe, mas Lilith? Não tinha o amparo de ninguém, apenas da irmã.
Isso tornava as escolhas ainda mais difíceis.
- Aurora, você sabe que eu te amo, né?
- Claro que sei. Eu te amo também, pirralha.
Talvez Lilith fosse a única que estava em seu coração, mas Aurora não disse isso. Ela tinha que manter a aparência de anjo o máximo possível, sem relaxar em seu teatro impecável. Afinal, se descobrissem que sua alma não era de anjo... Puff, no mínimo lhe arrancariam as asas e a fariam viver no submundo. E não, não era o Inferno. Quem dera fosse! O submundo era o limbo e não era um lugar bonito pra se viver.
- Eu encontrei uma forma de viver no paraíso – sussurra Lilith – E agora que tenho a oportunidade, não sei se sou forte o bastante para fazê-lo.
Lilith? No paraíso?
Por todos os infernos, não! Isso acabaria com seu disfarce! Sua irmã era seu ponto fraco. Aurora tinha consciência de que assim que percebessem a alma pura de sua irmã, descobririam o erro que cometeram.
Enquanto Aurora digeria a noticia, buscando meios de tirar a ideia da cabeça da irmã, ela não notou o movimento delicado de Lilith ao tirar a faca do bolso. Ah, que a Lua a ajudasse, não era uma faca comum. Era banhada com água divina que tinha poder de curar os homens e matar os anjos.
Lilith sentiu um aperto no peito. Para se livrar de sua cela, precisava se livrar primeiro de sua companheira, sua outra metade. Deveria matar Aurora, a traidora dos anjos. O Criador queria assim e assim seria.
- Apenas uma de nós pode ter o que quer, Aurora. Você quer descer para o Inferno e eu subir ao Paraíso. O problema é que eu, a cada alma que matei, me tornei uma pessoa melhor. Já você... Ah, Aurora, achou mesmo que poderia enganar o Criador? – pergunta Lilith, como se estivesse carregando o peso do mundo nos ombros.
Aurora gela. Em segundos estava de pé, na defensiva. Lilith demora mais para levantar e então encara a irmã. Com olhos azuis pálidos, não vermelhos. Que porra?! Impossível! A menos que... Não, Lilith não teria feito um acordo com o Criador. Ou teria?
- Minha irmã, eu amo você. Se eu pudesse fazer isso de outra forma, eu faria – assegurou a gárgula.
Então, sem esperar a resposta de Aurora, Lilith enfia a faca no peito da irmã. A faca rompe pele, músculo, veias e finalmente o coração. As lágrimas de Lilith são transparentes, não vermelhas como deveriam ser. Aurora estava chocada. Diante de seus olhos sua irmã mudava a cor dos cabelos, de pretos para castanhos. A pele que antes tinha aparência dura e fria, agora parecia suave e transmitia calor.
A dor em seu peito era estranha. Seu corpo doía, sim, mas sua mente não estava ficando confusa. Ao contrario, sua mente parecia ainda mais ativa do que antes. A faca foi retirada, mas quando Aurora tentou olhar a ferida, não conseguiu. Estava paralisando! Em um ultimo impulso, abriu as asas, mas estas logo congelaram abertas.
Estou petrificando, pensou Aurora, como uma gárgula.
- É incrível, Aurora. Mesmo petrificando, ainda parece com um anjo. Durma bem, minha irmã. Sua missão através dos séculos será proteger a cidade em que tanto quis morar. Passará seus infinitos anos vigiando-a como uma estatua, assim como as gárgulas fazem. Não era esse teu sonho, irmã? Finalmente é uma gárgula.
Lilith sussurrava, como se isso tornasse o processo mais fácil para irmã. Quando toda ela se tornou pedra, lisa e perfeita, com apenas uma rachadura no lugar onde foi morta, Lilith sentiu seu próprio peito arder. No mesmo lugar onde feriu sua irmã, uma feia cicatriz se formou no peito dela.
Secando as lágrimas e beijando o rosto da irmã uma ultima vez, Lilith abriu as asas. Onde antes havia feias penas negras agora estavam lindas e delicadas penas cinza. A eterna prova de que não nasceu como anjo, mas teve uma segunda chance.
Voou em direção ao céu, como nunca fez antes. Não estabilizou o voo. Desta vez podia voar adiante, acima das nuvens, em direção ao sol. E quando seu corpo se tornasse apenas Alma, chegaria ao Paraíso.
Enfim, cada uma estava onde sempre quis estar.
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Caio Biolcatti
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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeSeg Jul 28, 2014 2:47 am

OLOCO MINA, E VOCÊ AINDA VEM ELOGIAR MEU TEXTO??? Meu, calma que eu preciso me organizar. Vamos lá. Vou começar com a parte dos erros porque é basicamente inexistente, além de um virgula ou outra, é só que quando você usar "teu", é legal concordar a fala inteira, usando "és" etc. MAS ISSO NEM É UM ERRO, NÉ? *O* Agora a parte sensacional: Mano, que história! Eu acho que em poucas palavras, você separou duas personagens que na verdade são representações da nossa sociedades, dos lobos em peles de carneiro, de como as aparências enganam e até que ponto um ser é capaz de chegar para concluir seus objetivos. Foi como ver a personificação do Yin e do Yang de um jeito mutcho louco que eu nunca pensaria em fazer. Na boa? P A R A B É N S! <3
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Carol Rodriguez

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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeSeg Jul 28, 2014 12:14 pm

Eu gostei de sua história, apesar de ter achado um pouco clichê. Gostei muito da profundidade das personagens, mas senti falta de saber como Aurora passou tanto tempo no Paraíso enganando a todos e sem que o Criador não tivesse feito nada antes disso para impedi-la.

Percebi que, no começo, usou os verbos no presente, mas perto do final eles mudam o pretérito e depois retornam para o presente.
Falta de atenção ou proposital?
Mas no geral está bem bom, Karol!
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Ademar Ribeiro

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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeSeg Jul 28, 2014 5:39 pm

Na minha opinião, pode não fazer tanta diferença nas suas próximas historias, mas tanto esta como as outras duas do mês passado percebi um desenrolar muito rápido. Faltou encorpar mais esses personagens e ambienta-los de forma mais detalhada. A história é boa, mas rápida. Quanto aos erros, não os identifiquem. Perfeito para mim neste quesito. É isso, até a próxima.
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Estela Goldenstein

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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeSeg Jul 28, 2014 9:54 pm

A eterna insatisfação atravessa para o além e é levada as últimas consequências! Adorei a história, pra mim a descrição das meninas foi ótima, minha imaginação foi longe! Parabéns garota!
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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeTer Jul 29, 2014 4:58 am

B'dia, anjos e gárgulas

Olha, Ana: suas construções são interessantes e cê não parece pecar muito quanto o assunto é pontuação. Além disso, teu enredo é bem construído e parece ter uma guia bem inventiva.
Porém, acho que ao tentar uma pegada mais dinâmica você acabou deixando algumas coisas pra trás, fazendo o texto ficar corrido e atropelado em detrimento de "rápido"
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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeTer Jul 29, 2014 5:13 pm

Menina que conto lindo! Triste, mas lindo! <3 (Digo triste pq pra conseguir o que queria, Lilith teve que perder uma parte importante de si, e não é isso que fazemos todo o tempo? Estou melancólica agora :') ) Além disso, fiquei aqui pensando em como que a relação dela com a mãe iria se desenvolver... Valeria um spin-off disso, não? Eu gostaria de ler um dia :3

Vou discordar dos outros aí e dizer que não achei corrido, senti que aconteceu tudo no tempo certo que tinham que acontecer. Uma conversa breve, onde Lilith fez o que tinha que fazer e acabou-se. Alongar-se demais em uma tarefa tão dura poderia levá-la a mudar de ideia.

Lindo texto gata! Louca pra ler os próximos! ^^
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Karol Silano




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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeQua Jul 30, 2014 9:27 am

Primeiro: MUITO OBRIGADA GALERA <3
Ok, vamos lá: obrigado por flarem dos erros, o do "teu" é um vício meu na fala q passei para o texto. Acho q o jeito é tirar o "teu", pq se concordar vai ficar um ar meio formal. EKÁ! HAUAHA
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Karol Silano




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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeQua Jul 30, 2014 9:32 am

Continuando…
A questão dos verbos eu não reparei, foi descuido!! Vou reler e prometo prestar mais atenção nisso!!
Quanto a rapidez do conto: é a cena que desenrola na minha cabeça. Como a Pat disse, era pra ser aquilo e fim, sem enrolação, pretextos ou conversa. Vou tentar escrever mais, mas dúvido que mude muito, já que prefiro contos curtos. Se eu escrever demais vira livro HAUAHAUAHAUA mas eu entendo a opinião de vocês e vou pensar nisso antes de escrever o próximo!
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Weslley Reis

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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitimeQua Ago 06, 2014 12:56 pm

Eu achei a história de uma criatividade incrível. A única crítica pode ser o tempo dos verbos que foi mudado, mas eu estava tão imerso na trama que não notei. Não achei clichê também, achei uma ótima forma de dialogar com a realidade. Também não achei corrido, dentro do recorte de um momento, consegui conceber mentalmente o restante da história.

Meus parabéns.
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MensagemAssunto: Re: Onde sempre quis estar.    Onde sempre quis estar.  Icon_minitime

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