Primeira vez

Estávamos juntos há uns meses e éramos jovens e inexperientes. Tudo tinha começado numa cumplicidade de silêncios inocentes. Ela desenhava, para o curso, e eu lia um livro de astrologia. Passávamos horas assim. O pai dela era uma figura intimidadora: muito sério e circunspecto, com um olhar que me perfurava. Ela queria mais, queria libertar-se das amarras paternas. Acasos fizeram com que recebesse uma quantia considerável e tivesse para onde ir (um apartamento que a mãe deixara vago, depois de emigrar). Saiu de casa. Pouco tempo depois fui viver com ela, apesar da liberdade e autonomia que gozava em minha casa - desde o divórcio dos meus pais deixara de haver regras, e basicamente fazia o que queria. Mas ir viver com uma rapariga tinha outro estatuto. E por isso, fui. Nunca estivemos apaixonados, mas, porque era normal, queríamos dar esse passo e perder a virgindade. Na nossa inexperiência tentamos, mas alguma coisa não estava bem. Eu não conseguia penetrá-la. Frustrados, chegamos à conclusão que ela teria um hímen demasiado duro e teria de ir a um ginecologista. Com a minha mãe tinha acontecido o mesmo, e convence-mo-nos que seria isso. Ela procurou um ginecologista. Foi num dia cinzento, recordo-me, e lembro-me de olhar para ela quando entrava no autocarro e lhe sorrir, tentando alguma empatia nesse momento. Contou-me depois que foi muito frio, e sentiu-se quase que violada. Mas foi à faca, e rompeu assim o hímen. Nessa noite estávamos mais ansiosos. Finalmente iríamos perder a virgindade. Pensávamos que isso nos faria adultos. Já não sei como aconteceu, mas saímos com dois amigos e fomos a um bar: a melhor amiga dela e o meu melhor amigo. Bebemos vinho, e, durante a noite, eu, que era sempre muito tímido, falei muito com a amiga dela, verdadeiramente entusiasmado. E fomos bebendo, até que nos decidimos ir embora e voltamos para casa. Ela estava a sentir-se enjoada, e, concluí depois, com ciúmes da amiga. Eu sabia que se estava a passar alguma coisa, mas tentei conter-me. Todos alcoolizadas procedemos ao que pensávamos seria esperado, e aceitável: ela foi para o quarto, a amiga para um outro, o meu amigo decidiu ir a uma discoteca, e eu fui para a sala. Mas estava siderado. Lembro-me de me virar e revirar, massacrar-me mentalmente. Mas já estava escrito: subitamente, despi-me e entrei simplesmente no quarto onde estava a amiga, deitada, e deitei-me ao lado dela. Ela estava à minha espera. Disse-me qualquer coisa como “Eu sabia que vinhas”. E depois foi tudo muito rápido. Ela ainda me perguntou se tinha um preservativo, mas depois disse-me que não estava nos dias férteis e que não havia problema. Penetrei-a facilmente, e assim perdi a virgindade, sem euforia no ato em si, mas a situação de saber que havia alguma perversidade no que fazíamos, conferia mais importância ao momento. Ejaculei, e depois permanecemos em silêncio um ao lado do outro, e foi sereno, e agradável. Mas a culpa começou a consumir-me. Lembrei-me dela, no quarto ao lado, e lembrei-me que seria hoje o “dia especial”. Levantei-me, fui ao outro quarto e contei-lhe. Ela reagiu da pior forma. Virou-se contra mim e contra a amiga. Discutimos. Entretanto o meu amigo voltou e eu contei-lhe o que tinha acontecido. Já não me lembro, mas sei que ela expulsou a amiga de casa, que saiu, acompanhada pelo simpático amigo,mas também devastada, e ela começou, nesse dia, a odiar-me. Estivemos juntos mais 3 anos. Continuamos a simular o nosso teatro de vida adulta. Comportamo-nos como um casal se deveria comportar. Eu submeti-me a ela, e ela deixou-se dominar por uma certa prepotência. Aquela noite foi “esquecida”. Mas permaneceu a relação de forças, e a culpa. O tempo diluiu tudo. Acabamos, felizmente, por nos separar, quando ela encontrou outro, e, de certa forma, me traiu, restituindo um certo equilíbrio. Agora passaram anos, e penso que naquela noite deveria ter-me ido embora também e ficado com a amiga. Voltei, aliás, a estar com ela anos depois, e qualquer coisa da sedução mútua daquele dia ainda subsistia, mas não foi suficiente para nos voltar-mos a ver. Agora, esta história e o que se lhe sucedeu parece-me infeliz, mas a primeira vez, em si, foi, apesar de tudo, doce...

Não sei se se pode considerar este pequeno texto um conto. Mas é uma história, e verdadeira (e talvez seja essa a sua única virtude). Costumo escrever poesia, mas não contos (escrevi um há muitos anos, também muito curto). Não domino a arte de contar histórias, mas talvez aprenda um pouco com vocês. Esta é a minha primeira participação nestes fóruns, e, apesar do pouco erotismo, penso que se enquadra no tema. Gracias

zizgz

Interessante o texto, mas senti falta de uma revisão de pontuação, e da separação por parágrafos. Não me leve a mal, é uma sugestão para organização do texto, a fim de torná-lo mais claro e confortável para ler.
Sugiro uma revisão ortográfica, apesar de notar que usou o português de Portugal. E me parece que fugiu um pouco ao tema...
Apesar de curto, a narrativa não ficou corrida, mas poderia ter sido mais explorada.
Abraços,

Rogério Silva

Obrigado pelas notas, Rogério. São úteis, vou pensar na revisão. Abraço

Primeiramente, seja bem vindo!
Reforço todos os conselhos dados pelo Rogério, mas discordo dele que tenha fugido do tema.

Nós temos uma primeira vez aí e ponto final

Mas eu achei o texto um tanto quanto cru.
Eu não senti a emoção nas personagens, eu acredito que poderia ter trabalhado melhor esses aspectos.

No entanto, eu te parabenizo por ter feito um texto curto, mas que não tenha ficado excessivamente corrido. - o que tende a acontecer.

Obrigado pelas boas vindas e pelo comentário, Tammy!
Concordo que as personagens estejam pouco trabalhadas. Vou fazer um esforço nesse sentido, se reescrever esta história ou escrever outros contos. Mas tenho ainda muito pouca experiência neste género.
Obrigado!
Ricardo

Ricardo, li seu nome no feedback à Tammy, já iria lhe questionar quanto a isso. Vamos lá. Essa sua modéstia ai não me comove, você escreve muito bem, concordo com Rogério sobre a revisão e com Tammy sobre os personagens pobres. Mas gostei do conto, é simples, mas agradável, rápido e corrido, gostoso de se ler, apesar de mal estruturado. Quanto ao subgênero, me parece que deu uma escorregada, mas emfim, como ressaltou, esta começando assim como nós, tá no caminho certo. Espero que leia os textos e deixe seus comentários também. Muito bem vindo e lhe espero em Outubro.

Obrigado pela força, Ademar. Vou tentar fazer melhor para a próxima. Abraço! Ricardo

Oi!

Achei que a história não partiu nem nos levou a muita coisa, algo meio jogado demais e pouco trabalhado. Faltou complexidade no sentido de construção e elaboração geral.

Esperando mês que vem!

Olá...
Primeiramente, parabéns, por apesar de ser inexperiênte neste gênero ter trabalhado em seu texto e participado.
Como já foi dito anteriormente, apesar de curto, seu texto cumpriu início, meio e fim. Muito bom isso considerando que na maioria das vezes textos curtos assim acabam por ficar corridos.
Ao meu ver poderia sim ter explorado mais a história e trabalhado um pouco mais das descrições e personagens. Mas acredito que estamos todos em aprendizado. Novamente, parabéns.

Achei o enredo fraco e embolado.

Embolado: talvez seja a estruturação.

Enredo é fraco porque os personagens não atuaram em tua estória.

O clímax ficou meio perdido na narrativa tendo que vasculhar tudo para encontra-lo, e também nem sei nada sobre o personagem alem da embriaguez, faltou sentimentos!

Me pareceu um estranho que aborda as pessoas na rua para contar sua triste história enquanto recusamos mas ele conta a força e não conseguimos entender suas aflições.

Eu curti. O tom é melancólico e triste, mas conta uma parte da vida de alguém. Fugiu, não do tema, mas do gênero proposto, e isso é um erro imperdoável! O gênero é a essência da narrativa, é baseado nele que tens que pensar na história. O tema é o complemento, o recheio, por assim dizer.

Mas seja bem vindo, espero outros textos seu!

Oi Ricardo,

O enredo da sua história é muito legal, acho que se vc desenvolvesse a cena de sexo do protagonista com a "amiga" certamente nao teria fugido do gênero proposto. Não fez muito sentido pra mim que o casal tivesse ido morar juntos para depois transar, se isso tem um motivo você deveria de alguma forma explicar para o leitor.

Eu sou a sua revisora, deixa seu email aki para eu te mandar o texto revisado.

Continue escrevendo e parabéns

Oi. Preciso do link de seu widbook para eu enviar a colaboração.

Caro autor (a), não consegui identificar. Erótico tem que erotizar ou, no mínimo, tentar; não conseguiu. Mas é para isso que estamos aqui. Acredito que o escritor tem que fazer o papel de parceiro, não de um ou outro personagem; mas do leitor. Levar ou tentar levá-lo ao clímax, entretanto, sei que é dificílimo; talvez, por isso, poucos autores fazem grande sucesso com esse tema.

Olha, eu gostei da história. Mas acho que você poderia ter construído algo muito maior em cima dela, trabalhar mais no drama e no erotismo, e não "jogar" as informações como você fez.
Espero que continue tentando, pois talento você tem!