Odisseia do Escritor
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 Enxergando o Mundo

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Patricia Souza
Indy J
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Indy J

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MensagemAssunto: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 8:23 pm

Se você for perguntar pra qualquer esquerdaloide aí da USP se uma aluna de vinte e poucos anos de Economia da PUC – patricinha! – tem qualquer visão de realidade e de vida, ele vai te expulsar do Centro Acadêmico, te chamar de burro e ainda corre o risco de baforar uma baita marola na sua cara, só pra deixar de ser trouxa.
Pois essa cega era eu, Amanda.
Não diria que eu nunca tinha transado, porque como qualquer aluna de ensino médio de uma escola de playboy, eu já tive umas visitas mais íntimas de umas amigas. Um cara, assim, um pau mesmo, eu nunca tinha nem visto. Era estranho: eu tinha uma timidez louca com eles, quase um mecanismo de defesa contra o sexo oposto... pelo menos até o segundo ano da facul.
Entrou um cara, transferido de não sei onde. Ele nem era tão bonito assim, passava até meio despercebido em relação aos outros da sala. Talvez tenha sido isso que me aproximou dele, sei lá. Só sei que, bem...
Ele chegou com o maior papo mole, perguntando das aulas que ele não teve (currículo diferente e o escambau), de material e tal. Aí, pronto: sempre fazíamos grupo, às vezes a gente saía junto – mas sempre com uma galera – e conversávamos bastante. De vez em quando até me buscava no ponto de ônibus, só pra gente passar mais tempo.
E eu achei mesmo que ele tava afim de mim...
Eis que ele chega com uma gostosinha aí que fazia Psicologia, quarto ano, toda toda. Fernanda o nome dela. Se chamavam de “amorzinho”, “moreco”, essa baboseira. No começo eu achei que tava aliviada de ele não querer nada comigo, afinal eu era inexperiente e talvez fosse até melhor e blábláblá – essas desculpinhas idiotas que a gente se dá, manja? – mas mal passou uma semana que eles tavam juntos e eu me sentia... traída.
“Obsessão” é uma palavra muito forte, mas é isso. Eu tava obcecada pelo cara! Sempre que eu via os dois juntos me dava uma certa sensação de nojo, de aperto no coração. E, como qualquer babaca faria, eu comecei a me afastar dele aos poucos.
Só sei que, quando eles terminaram – mais ou menos no final de maio - eu fiquei sabendo por uma terceira pessoa que não tinha nada a ver. Quando eu ouvi a notícia... nossa, pensa numa pessoa feliz! Logo passei a falar mais com ele, voltar à comunicação de antes, e fiquei extremamente contente que ele não tinha ficado magoado comigo, ressentido. Nem tocou no assunto, nem nada. Nunca nem mencionou o namoro de novo, e pra falar a verdade eu nunca mais encontrei com a tal aspirante a psicóloga. Devia ter me tocado...
De qualquer forma, quando começou junho, no aniversário dele – dia três – eu fiz uma cartinha maior especial. Dizia que eu curtia muito ele, que adorava ter conhecido e, no finalzinho, fui bem sugestiva. Tomar atitude, século vinte e um né? Por mais que, pensando agora, tenha sido um fim bem quinta série.
Tiro e queda! A festa foi no sábado, e já no domingo ele me chamou no chat. Segunda-feira a gente saiu, se pegou e na terça ele me pediu em namoro.
Tava tudo indo muito rápido, mas eu gostei bastante. Curti tanto que, quando chegou o Dia dos Namorados e ele me chamou pra casa dele, eu aceitei tão na hora que pareceu que disse “sim” até antes de ele ter verbalizado. Foi meio estranho, porque uma parte de mim não queria que aquilo fosse tão rápido, mas a outra gritava de vontade.
Acabando a aula ele me levou pro carro, um carrão vermelho e esguio – e pegamos a estrada pra casa dele.
Ele no volante e eu no passageiro, toda distraída. Aí, do nada, ele põe a mão na minha perna esquerda. Massageou, bacana, começou a subir a mão... e eu sem soltar um pio mas olhando de viés, deixando mas não deixando. Ele disse só uma palavra quando tava pegando na parte interna da minha coxa:
- Tira.
E, porra, eu tirei! Nunca tinha desabotoado uma calça tão rápido quanto naquele dia, dois segundos e já tava debaixo do porta-luvas.
No momento que ele encostou a mão na minha perna nua eu senti um formigamento do meu dedinho do pé até o cabelo, mas não era exatamente bom... era como um negócio bom mas dolorido, saca? Dor e prazer, ao mesmo tempo.
E só foi ficando pior enquanto ele subia a mão, devagarinho... me esfregou por cima da calcinha e, a cada milésimo de prazer que eu sentia, mais sensação ruim. Quando ele foi mesmo e meteu o dedo lá dentro, eu tava gemendo e pedindo pra ele parar – tudo junto!
Chegou uma hora que a dor tava tão intensa, tão ruim, que eu parei de gemer e gritei:
- Para, porra!
E ele parou. Mas parou só pra olhar pra mim.
Diminuiu a velocidade do carro, e eu tava começando a achar meio suspeito. Mas ele só olhou pra mim. Eu nunca tinha notado o quão pretos eram os olhos dele, talvez fosse porque tava de noite, mas, sério... um poço negro. E foi quando ele olhou pra mim que eu percebi.
Percebi que eu era dele.
No instante que ele voltou a olhar pra estrada, me masturbou mais até eu chegar num dos orgasmos mais gostosos que eu já tinha sentido, e aquela sensação estranha de dor foi embora – pelo menos enquanto não chegávamos na casa dele.
Quando ele estacionou, voltou aos poucos o desconforto extremo, o desprazer total. Abriu a porta, me deixou entrar primeiro – um perfeito gentleman! -, a porra toda. Me serviu um copo de vinho barato e me convidou a sentar no sofá. Quando eu sentei, senti um cheiro estranho, parecido com o que eu senti um dia quando encontrei meu gato morto no quintal. E também, quando encostei na almofada, percebi como se ela estivesse mofada, com alguma coisa mole embaixo. Quase no exato momento que eu ia perguntar pra ele de onde vinha aquele cheiro, vejo o pau dele quase-duro e o dono de pé, de novo dizendo uma só coisa:
- Chupa.
Eu não me orgulho de dizer que eu tentei fazer o melhor boquete que eu tinha aprendido nos filmes pornô. E, aparentemente, não fiz um mal trabalho.
Quando ele gozou, foi como se caísse a Lua na minha cabeça, a porra do Sol. Uma dor estranha, que percorria todo o meu corpo, tomou conta de mim. Ficou tão forte, uma hora, que eu cheguei a ficar no chão, deitada.
Vendo eu me contorcer de dor, ele disse, quase sorrindo:
- Sabe por que isso tá acontecendo? Porque você ainda não se entregou. Porque ainda tem a menininha dentro de você, a menininha boba e receosa. Vamos lá, Amanda. Vem. – e me levantou pelo braço. Quando eu estava de pé, de frente pro sofá, ele me pegou pelas pernas e eu percebi o que ia acontecer. Eu não queria aquilo.
Eu estava esperneando e gritando “para!” quando ele entrou em mim e me penetrou com seus olhos negros.
Hipnotizada, eu ia pra cima e pra baixo nele, quicando e sentindo tudo. Mas ainda tinha uma fagulha em mim que tava lutando contra tudo aquilo, resistindo. Eu tava quase me esquecendo da razão quando ele, ensandecido pela transa, sentou de uma vez no sofá – amarelo-canário, eu me lembro bem da cor – e a outra almofada levantou.
Nojo é uma palavra meio difícil de usar, porque nojo é o que eu sinto quando vejo uma barata ou uma mosca no café.
Ver a cabeça da Fernanda debaixo do sofá me causou desgosto, vontade de morrer, vontade de matar, de ir embora, de ir pra polícia, tudo.
Ele, desesperado porém estranhamente sereno, só me olhou. Perguntou:
- O que você viu, vagabunda? Tá assustada? Parece que viu gente morta.
E colocou as mãos na minha cabeça.
- Vamos, o que você viu?
Tudo isso eu ainda em cima dele, sem parar.
- O que você está vendo, Amanda?
As mãos dele começaram a se fechar no meu rosto.
- Foi gente morta que você viu?
Os polegares cobriram meus olhos.
- Foi a putinha da Fernanda que você viu?
Os polegares começaram a se afundar.
- Fala, Amanda! Fala pra mim o que você está vendo!
Mesmo com o sangue correndo pelas minhas bochechas, quando eu gritei foi pelo orgasmo.
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Patricia Souza
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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 10:03 pm

Gente! D;

Vcs são muito sangrentos, cruzes!

Texto muito bem escrito, bem conduzido, tem morte, e olha, que morte! Mas não deu medinho. se eu não soubesse que vinha coisa aí, esperava que tudo desse certo no final. Mas não deu, então acho que conta, não conta? Conta sim!

Parabéns pelo texto, quero mais mês que vem! Very Happy
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Indy J

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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 10:35 pm

Ahem, obrigado pelas observações! Primeira vez que escrevo qualquer coisa de terror, tenho MESMO que trabalhar mais no clima aterrorizante/suspense. Mas vamos que vamos, aí pra frente tem mais né? Smile
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Ademar Ribeiro

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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSex Jun 27, 2014 10:47 pm

No inicio imaginei algo mais fantástico como criaturas míticas, mas não foi isso, seu olhos negros eram negros por culpa de seus ancestrais. Ao decorrer da história os elementos se jogam na cara do leitor denunciando o desfecho, embora o desfecho seja diferente do esperado. Realmente imaginei alguma morte ao final, mas não se sucedeu. O terror acredito eu estava na maneira com que a garota encarava aquele ato, um tanto bizarro ao se deparar com uma cabeça e sentir tal orgasmo em seguida. Quer algo mais aterrador que isso? No mais, bela narrativa, ótima revisão e um enredo bem descolado. Parabéns Gustavo.
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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSáb Jun 28, 2014 1:17 pm

Valeu, Ademar! Estava intencionando isso mesmo, um impacto pelo psicológico da personagem ao invés dos fatos em si.
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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeDom Jun 29, 2014 8:13 am

Se sua intenção era essa me acertou com ela! Wink
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Carol Rodriguez

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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 12:18 pm

Gente. O:
O que eu mais gostei é que ela fala umas coisas no começo, como o trecho (...)"Nunca nem mencionou o namoro de novo, e pra falar a verdade eu nunca mais encontrei com a tal aspirante a psicóloga. Devia ter me tocado..."(...), que você fica meio ????? quando lê. Mas quando chega no final, tudo se encaixa e aí você fica meio "aaaaah, por isso aquilo lá".
Adorei!
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Queirós

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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 2:41 pm

Porra, gustavo! Não piora minha vida, kralho!

Agora ficou complicado. Você conhece a Carol Rodriguez? É a dona do Fuleco. Então, meu voto era dela até eu ler "Enxergando o Mundo". Agora estou confuso...

Eu até pedi a Carol em casamento! E agora? O que faço?!
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Indy J

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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 7:03 pm

Valeu pelas observações, gente! E, Carlito, a vida dá umas dessas às vezes rs

Critiquem mais também, poxa.
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Estela Goldenstein

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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitimeSeg Jun 30, 2014 10:49 pm

Oi, uma das coisas mais aterrorizantes eh entrar em uma rodada! Adorei a história vc soube escolher os elementos, obsessao, ciumes, assassinato, se o, violência, gostei bastante! Parabéns
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MensagemAssunto: Re: Enxergando o Mundo   Enxergando o Mundo Icon_minitime

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